20/03/12

Álvaro de Campos: "Tabacaria", declamações e encenações

Algumas declamações e encenações de um dos poemas mais emblemáticos de Fernando Pessoa / Álvaro de Campos. A "Tabacaria", escrita em 1928, foi publicada em 1933 na Presença.

Mário Viegas




14/03/12

Fred Martins: "Samba e outras bossas, poesia cantada brasileira"

O cantor e compositor fluminense Fred Martins falará e cantará na próxima quarta-feira, dia 21 de Março, na Faculdade de Filologia e Tradução da Universidade de Vigo ("Sala de Graos", 12:00 horas), em relação com o tema: 
"Samba e outras bossas, poesia cantada brasileira".

Fred Martins tem um repertório variado e muito relacionado com a tradição musical do artesanato da canção no Brasil, dialogando com o samba e a bossa nova, e também misturando elementos do rock e de outros estilos musicais. Recebeu o último Prêmio Visa de Música Brasileira.

A sua relação com a tradição musical brasileira afiançou-se com o trabalho de transcrição de partituras para alguns dos mais famosos Songbooks produzidos por Almir Chediak entre eles os de Chico Buarque, Tom Jobim, Gilberto Gil, Dorival Caymmi, Noel Rosa, João Bosco, Caetano Veloso entre outros. Este vídeo é uma versão de "Tempo afora" do disco homónimo de 2008:


Até agora, Fred Martins publicou quatro discos: Janelas (2001), Raro e comum (2005), Tempo Afora, CD e DVD (2008), Guanabara (2009). Acaba de lançar o trabalho Acrobata em dupla com
Ugia Pedreira (Galiza).
Participou nos festivais internacionais Músicas Portuárias, Cantos na Maré, Festival Jawhara (Marrocos), entre outros eventos.
Actualmente participa como compositor e intérprete no espectáculo de María Pagés, Utopia inspirado em Óscar Niemeyer.
 Mais informação:
"Tempo Afora" (DVD Tempo Afora - Canal Brasil):

07/03/12

Ricardo Reis: Materiais


Na célebre carta a Adolfo Casais Monteiro de 1935, Fernando Pessoa caracteriza Ricardo Reis da seguinte forma: 
"[...] nasceu em 1887 [...], no Porto, é médico e está presentemente no Brasil. [...] Um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte [que caeiro], mais seco. [...] De um vago moreno mate. [...] Educado num colégio de jesuítas, é como disse, médico; vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É um latinista por educação alheia, e um semi-hellenista por educação própria." 
Ainda segundo o seu criador, Ricardo Reis terá sido educado num colégio de jesuítas, tendo recebido uma educação clássica (latina) e estudado, por vontade própria, o helenismo (sendo Horácio o seu modelo literário). 
A sua formação clássica reflecte-se, quer a nível formal (odes à maneira clássica), quer a nível dos temas por si tratados e da própria linguagem utilizada, com um purismo que o Pessoa-ipse considerava exagerado. Era médico, no entanto, não exercia a profissão. De convicções monárquicas, emigrou para o Brasil após a implantação da República. Como pagão intelectual, lúcido e consciente demonstra uma moral estoico-epicurista, misto de altivez resignada e gozo dos prazeres que o não comprometessem na sua liberdade interior. Representa uma resposta possível do ser humano ao desprezo dos deuses e à efemeridade da vida.
A obra de RR consiste em 250 odes, das quais aproximadamente 30 se publicaram nas revistas Athena e Presença ainda em vida de Pessoa. Reis interpreta o neo-paganismo do seu mestre de maneira mais metafísica.
Em relação às tarefas que Pessoa atribui aos heterónimos, Caeiro devia realizar a "Reconstrução da sensibilidade pagã" e Reis a "Reconstrução da estética pagã"; enquanto António Mora seria o responsável da "Theoria geral do paganismo novo" e da "contra-these à «Critica da Razão Pura» de Kant, e tentativa de reconstruir o Objectivismo Pagão", ou seja, do "neoclassicismo «scientifico»", no qual "a Sciencia substituirá a religião". 
A função de Reis na heteronímia contraria, assim, o primado visual de Caeiro, o seu materialismo de pura representação: "a propia sensualidade com a sua animalidade directa devem ser excluidas da arte. Essas coisas não são arte: são vida. A arte deve dar o material, mas tornado immaterial". 
Por isso, Reis critica Cesário Verde, o único poeta venerado por Caeiro: "O verso de Cesario. Isso é photographico, não pictural. E a photographia não é arte porque reproduz exactamente a materia. Só é arte pela escolha (do assumpto, da posição, etc.) porque a arte é escolha". 
Reis é anti-moderno em termos estéticos e céptico e contraditório no que diz respeito ao neo-paganismo: "Ao pagão moderno, exilado e casual no meio de uma civilização inimiga, só pode convir uma das duas formas últimas da especulação pagã - ou o estoicismo, ou o epicurismo".
Afirmou, também, que: "O paganismo morreu. O cristianismo, que por decadência e degeneração descende dele, substituiu-[o] definitivamente. Está envenenada para sempre a alma humana." 
Reis não respeita a exigência horaciana que a poesia devia ter uma utilidade para a vida: "O que sentimos verdade dentro de nós, traduzimos para a palavra, escrevendo os nossos versos sem olhar aquilo a que se destinam". E: "Um poema é a projecção de uma ideia em Palavras através da emoção. A emoção não é a base da poesia: é tão-sòmente o meio de que a ideia se serve para se reduzir a palavras". Álvaro de Campos considera que esta subordinação da linguagem lírica ao pensamento é a essência da poética de Reis.

Mais informação sobre Ricardo Reis e declamações das suas odes podem ser encontradas em MultiPessoa.
Uma boa informação geral, uma selecção de textos e exercícios (nível 12º ano) estão disponíveis em Lusofonia - Plataforma de apoio ao estudo da língua portuguesa.
A Wikipédia oferece, também, uma síntese bastante aceitável da sua obra.
Os textos de boa parte das odes estão disponíveis no Arquivo Pessoa.
Alguns exemplos de intertextualidade / recepção de Ricardo Reis na literatura portuguesa podem ser encontrados aqui.
Uma análise completa da obra do heterónimo por  Maria Helena Nery Garcez, O tabuleiro antigo: uma leitura do heterônimo Ricardo Reis (São Paulo: Universidade de São Paulo 1990), pode ser lida aqui.
Para ouvir uma declamação da ode "Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia..." por Luís Gaspar dique em "Ler mais...".

01/03/12

Pichação a debate

Recentemente, a New York Times ocupou-se do tema da pichação em São Paulo e obteve grande eco, não só no Brasil.
No Brasil, pichação refere-se ao acto de escrever ou rabiscar sobre muros, asfalto de ruas ou, até, sobre monumentos, usando tinta em spray aerosol, dificilmente removível, ou outras. Trata-se, de uma forma geral, de frases de protesto ou insulto, assinaturas pessoais ou mesmo declarações de amor, embora a pichação seja também utilizada como forma de demarcação de territórios entre grupos rivais. Distingue-se do grafite, uma outra forma de inscrição ou desenho, tida como artística, embora o termo graffiti costuma significar, noutras línguas, como a inglesa, formas de expressão mais ou menos artísticas. 
A pichação costuma ser fortemente criticada como acto de vandalismo, enquanto algumas vozes defendem o seu valor artístico e as suas mensagens porque as consideram uma expressão de protesta num contexto urbano com grandes problemas sociais. 
Dique em "Ler mais" para ver o trailer e um excerto do documentário Pixo de João Weiner, que retrata a vida do ex-pichador Djan Ivson e que também contém imagens da invasão de pichadores na Bienal de Arte de São Paulo em 2008 onde 'picharam' obras de arte para protestar contra a arte mainstream.