06/04/11

Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas num Universo Globalizado

Acabam de ser publicadas as Actas do Encontro Internacional Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas num Universo Globalizado, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian do 25 ao 26 de Outubro de 2010. O pdf das Actas pode ser decarregado aqui.

Reproduzimos uma parte do índice:

Painel 1 – A língua portuguesa no mundo (Francisco Pinto Balsemão)
Para uma política de internacionalização da língua (Ana Paula Laborinho)
A maneira portuguesa de estar no mundo (Adriano Moreira)
A Língua Portuguesa no Mundo (Graça M. Gomes)

Painel 2 – Diáspora e emigração(Eduardo Lourenço)
Diáspora e emigração – sobre as comunidades portuguesas dos EUA e Canadá (Onésimo Teotónio Almeida)
Francisco Seixas da Costa
Helder Macedo

XVIII Prémio de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa FCT/UL 2010
Laureados
Bernardo Harold
João Sentieiro

Painel 3 – Valor económico da língua portuguesa
David Ferreira
Renato Borges de Sousa
Pedro Norton
Valor económico da Língua Portuguesa (Paulo Teixeira Pinto)

Painel 4 – Ciberespaço lusófono, como forma de difusão e divulgação da língua – Internet e novas tecnologias
Gilvan Müller
Afonso Camões (apresentação)
Conferência – Alberto Costa e Silva

Sessão de Encerramento
José Luis Dicenta
Isabel Alçada
Notas de Intervenção – Domingos Simões Pereira
João Sentieiro
Recomendações do Colóquio

05/04/11

"O Banqueiro Anarquista" de Fernando Pessoa

«A liberdade para todos só pode vir com a destruição das ficções sociais» 

Esta é a conclusão principal do conto filosófico O Banqueiro Anarquista de Fernando Pessoa, publicado em Maio de 1922 no primeiro número da Contemporânea, dirigida por José Pacheco e ilustrada por Almada Negreiros. Com a sua pretensão de arejar o provincianismo da Lisboa de princípios do século XX, esta revista também procurava prolongar no tempo a pequena e elitista revolução estética da geração de Orpheu. No editorial do seu primeiro número, a Contemporânea apresentava-se como «feita expressamente para gente civilizada e para civilizar gente». Porém, a contribuição de Fernando Pessoa supõe uma variação bastante satírica e ambígua deste ambicioso projecto civilizador. O seu conto abre com a descrição de um ambiente desembaraçado e alegadamente civilizado num destes clubes à inglesa, tradicionalmente alheios aos debates intelectuais ou políticos. Depois de um jantar presumivelmente opulento, um banqueiro rico emaranha o seu ingénuo e servil interlocutor, que actua a modo de um discípulo platónico, com o seu raciocínio complexo e paradoxal. Segue-se uma lição iconoclasta e irónica sobre o que este banqueiro, confessadamente açambarcador, considera ser o verdadeiro anarquismo, do qual se declara inventor e partidário fervoroso, apesar de as suas práticas profissionais serem, em última instância, anti-sociais e, empregando uma terminologia mais actual, neoliberais. Já o oximoro sociopolítico do título, «O Banqueiro Anarquista», desconcerta de imediato a quem lê este conte philosophique, podendo causar, até, um certo desassossego na próxima visita ao multibanco. Além de outros três brevíssimos contos de lógica paradoxal, este é o texto de prosa literária completo mais extenso entre os poucos que Pessoa chegou a publicar em vida. Não é um texto que tenha recebido uma atenção especial por parte da crítica pessoana, embora nos possa oferecer uma perspectiva diferente e bastante sugestiva sobre a heteronímia, da qual pretendo fazer aqui um primeiro esboço. No fundo, O Banqueiro Anarquista é um tratado didáctico sobre filosofia política, disfarçado de diálogo vagamente platónico que joga hábil e intencionalmente com diversas variantes de silogismos, tautologias e sofismas.
As principais edições de  O Banqueiro Anarquista são a de Manuela Parreira da Silva na Assírio&Alvim, que inclui 13 fragmentos. A edição de Teresa Sobral Cunha (Relógio d’Água) tem a inconveniência de integrar estes fragmentos no texto sem que existissem indicações inequívocas do autor se e onde os teria inserido.
No seguinte PPT resumimos alguns aspectos de interpretação e de contextualização do conto (uma análise mais detalhada pode ser encontrada aqui):


Encenação de João Garcia Miguel de O Banqueiro Anarquista (2009):